PRÁTICA PEDAGÓGICA DO KARATÊ-DÔ

NO DOJÔ KODOKAN – “FORÇA E PERSISTÊNCIA”

           Todos os movimentos técnicos do karatê foram estudados cientificamente para alcançar a máxima eficácia, através do estudo das possibilidades mecânicas e fisiológicas dos membros.

           Conseqüentemente, mesmo que os movimentos de bloqueios, de ataques e de deslocamentos sejam facilmente compreensíveis e executáveis, é necessário precisar que, somente um treinamento contínuo pode levar ao desenvolvimento dos reflexos. Isso, para que um bloqueio possa parar um ataque, e o ataque seja tão rápido, conforme os princípios das artes marciais, e ainda, mais veloz que a percepção da visão.

           Dessa forma, para alcançar uma eficiência razoável no karatê e um bom nível no desenvolvimento dos reflexos, fazendo uso de um treinamento normal, é necessário praticar por um período mínimo de dois a três anos.

1. ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO DO TREINAMENTO DE KARATÊ

          O desenvolvimento do treinamento se desenvolve em três principais etapas: KIHON (Fundamentos), KATA (Exercícios tradicionais de defesa), KUMITE (Luta).

1ª. Etapa: KIHON (Fundamentos)

           O aluno que começa a prática do karatê inicia na primeira fase do estudo desta arte, começando a aprender os primeiros princípios dos fundamentos. Nessa fase se aprende as posições fundamentais das pernas e também a fazer uso dos ataques e dos bloqueios na posição natural ou nas posições fundamentais, mas parado. Este sistema de treinamento lhe permite aprender as técnicas mais importantes do karatê na forma de coordenação mais simples, ou seja, com cada ação estudada, a única finalidade é a técnica, sem outra preocupação. Este sistema de treinamento, além de criar uma coordenação inicial nas posições de base, faz com que a musculatura crie um hábito de soltura, tornando-se mais elástica e lhe dando um tônus de velocidade. Neste sistema, a atenção do estudante estará concentrada na execução individual de cada técnica de defesa ou ataque, preocupando-se com a forma simétrica dos movimentos, seja tanto a direita como a esquerda.

2ª Etapa: KATA (Exercícios tradicionais de defesa)

          Nesta fase, assimilados os movimentos únicos, iniciam-se as caminhadas nas várias posições para frente e para trás, executando as várias ações de defesa e de ataque. Nesta segunda etapa também se iniciam os estudos dos Katas (Heian), que são uma série de ações de defesa e ataque que seguem uma trama pré-ordenada. Os da série Heian são cinco e são denominados de kata de base, acrescido do kata de treinamento Teki n°1. Esses katas levam o estudante no seu progresso até a faixa de cor marrom (1° kyu). Além disso, eles possuem uma dificuldade progressiva de ações de execução com a finalidade principal do aperfeiçoamento da técnica, objetivando a procura da melhor e mais veloz coordenação e a estabilidade nas rotações e nas trocas de posições. O Kata se executa sozinho contra adversários imaginários que atacam nas diversas direções.

           Quando do exame para alcançar a faixa preta (1° dan) é necessário que o estudante apresente algum kata superior, o qual mais se adapta ao seu físico. Além dos Heian e do Teki sho dan, o estilo Shotokan tem mais 20 Katas para estudo.

          É importante ressaltar que, uma ótima execução dos katas funciona como um sistema de avaliação das técnicas alcançadas pelo praticante na coordenação em velocidade e precisão nas técnicas de karatê.

3ª Etapa: KUMITE (Luta)

           Nesta fase se iniciam os primeiros movimentos combinados em dupla, onde um ataca determinando o alvo e o outro executa um bloqueio e um contra-ataque pré-combinado. Este tipo de exercício é denominado de Kihon Kumite, que além de aumentar o desenvolvimento dos reflexos, fornece ao estudante a escolha do tempo para executar um contra-ataque, enquanto quem ataca se esforça em executá-lo sempre da melhor maneira, com maior velocidade, potência e decisão.

           Como último exercício, o kumite se pratica de forma livre Jiu-Kumite, que é a fase mais delicada de todo o treinamento, mesmo que o estudante tenha alcançado uma precisão e coordenação nas várias ações, devemos considerar que a potência e a velocidade são próximas aos limites máximos. Por isto, em sede de treinamento, um ataque lançado fora da medida pode causar danos consideráveis ao companheiro.

           De fato, a regra principal do kumite é que o ataque deva chegar tão próximo e contido que, se não foi bloqueado a poucos centímetros do alvo corretamente, deve acautelar-se em nunca tocar o companheiro de treinamento. Assim, comporta observar e avaliar, além de uma técnica notável, também o autocontrole e a precisão desenvolvidas.

          Além destes exercícios, deve o estudante iniciar uma moderada prática ao makiwara e ao saco de bater, habituando-se em golpear realmente sobre os alvos, contraindo a musculatura e potenciando a ação.

           Paralelamente aos exercícios físicos o estudante deve esforçar-se em aprimorar os princípios filosóficos do karatê, sendo eles: CARÁTER, SINCERIDADE, PERSISTÊNCIA, RESPEITO e AUTOCONTROLE, valores que fazem com que o karatê se torne realmente não só uma arte marcial, mas também um modo de viver.